Monday, March 9, 2015

Solstício

Quando cheguei aqui não me deram manual de instruções, caí na arena de cara com o leão e sem escudo, só peito cheio e cabeça erguida.

Nos tempos de criança conjugava o tempo no futuro, quando me faltava muita coisa em casa tinha minhas palavras no armário, meu pai foi embora, minha irmã chegou, minha família mudou, ouvi histórias de sequestro, assassinaram meus amigos enquanto outros seguiam pra longe, fui babá, vendedor ambulante, office-boy, músico, artista, referência, decadência, despedida, traição e o acúmulo do alívio da volta ao mundo real, em briga de rua apanhei por estar certo, derrubei pra provar que também conseguia errar já que tapas nas costas não me deixaram corcunda acostumado ao bem ver do jardim, entre outras histórias pra contar.

Hoje eu vejo o futuro do tempo no passado, cicatrizes e o cansaço dessa guerra me fazem ignorar latido de cadela, falsa amizade, armação e saldo bancário, dispensei minhas armas no alistamento atrasado e tenho 27 motivos pra não voltar atrás.

E agora? É caminhar pelo campo minado.

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Maira Gall