Monday, February 29, 2016

Ela chegou sem dar oi.

A vida corre entre passo e passado, no meio da buzina dos carros é pouca calmaria que se encontra no caminho.

Hoje somos, talvez inconscientemente, levados a passarmos despercebidos pelas ruas, avenidas, bocas e vidas. Aprendemos a nos distanciar do próximo levados pelo medo de tapas e facas nas costas.

Eu desconfiei da sorte quando senti mais perto o perfume de rosas, frutas e desejos exalando do pescoço daquela morena dos cabelos negros como as noites em que as estações parecem se confundir... Quando me perdi, vi verão em pleno inverno.

Nos acostumamos a tomar cuidado com o bater do coração, mas eu já vivi descompassado algumas vezes e as melhores músicas foram tocadas perto do ouvido e longe do mundo.

Somos surdos, cegos e mudos aos olhos dos desavisados, nos interessa o calor do corpo, os dias que notas brilham no escuro.

Talvez seja esse o nosso medo, saltar aos olhos.

Eu a conheci, respirei fundo e pulei... O voo faz valer a queda.

Wednesday, August 12, 2015

Eu queria te deixar pra lá...

Eu queria te deixar pra lá como fazemos com sapatos que não servem mais, há pessoas que se encaixam perfeitamente mas, às vezes, não lhe servem por completo.

Eu queria te deixar pra lá como uma mensagem visualizada sem direito de resposta, colocar você no canto dos burros e dizer à todos: "Ela merece o chapéu."

Tudo e nada são variações do mesmo ponto de partida, aquele do qual partimos quando não nos servimos mais em nós mesmos, sem pretensão de voltar algumas vezes e, em outras, sem pretensão de partir.

Como um coração ela encaixa em mim, mas não sei se cabe em meu peito... Ele parece querer explodir.

Wednesday, May 27, 2015

Impossível

Fazemos tudo errado por natureza.

Faz parte de mim estragar qualquer possibilidade das coisas darem certo quando se trata do relacionamento entre razão e sentimento.

Desde criança sempre quis subir no lugar mais alto, na árvore mais difícil, descer a maior ladeira do bairro sem freio, alcançar sem cadeira... Sempre quis o impossível, pedia respostas ao silêncio, discutia com o eco, brigava comigo mesmo pra matar o tédio.

Eu queria dizer pra ela que senti saudade, que queria ouvir a voz dela de perto outra vez, que todo tempo que passou foi chato sem ela pra rir comigo. Queria dizer que não sei lidar com a ausência, que meu orgulho sempre me bate, que as coisas deveriam ser mais simples, que eu faria tudo de novo, que eu... que eu queria... Mas não disse.

Na verdade, eu não disse nada. Nem tive tempo pra isso, estrago as coisas mais rápido que as construo.

Eu sempre quis o impossível, isso não me deixa tirar ela da cabeça.

Thursday, May 21, 2015

Alguém avisa ela que eu tenho saudade.



Peço por alguém que chegue lá, bata na porta, entregue um bilhete e corra como o vento na direção oposta sem dizer nada, assim como ela fez.

Diga que tenho saudade do mau humor dela de manhã, do cabelo bagunçado e a cara de sono, da voz sonolenta reclamando qualquer coisa sem sentido, sinto saudade de esperar pra lhe ver, tenho saudade das borboletas, sopros e tufões estomacais na véspera da chegada.

Tenho saudade de coisas idiotas, algumas coisas ruins também.

Saudade é quando a alma sente fome da presença de quem não está mais por perto, às vezes, nem longe, e em outras nem se sabe mais onde. Até a ausência faz parte da vontade de guardar segredos na gaveta junto com os bilhetes que não terminei de escrever.

Não entreguei a ela o que pretendia, nunca me dei pra ninguém e, mesmo assim, ela levou embora uma parte de mim.

Monday, May 4, 2015

Eu não quero mais te ver.

Eu tropecei no amor uma vez, muitos anos atrás e achava que nunca mais ia querer ver isso acontecer por perto, na verdade realmente não queria, mas essas coisas sempre acontecem, principalmente quando não deviam acontecer.

De certa forma, me decepcionar foi uma das melhores coisas que me aconteceram, não que exista um lado bom em perder alguém, mas isso muda nossa opinião sobre quase tudo, principalmente o cardápio musical. Parei de ouvir muita coisa por anos até descobrir que aquela banda ainda é legal, independente de quem ela lembre, saí e comprei as comidas que ela gostava pra jantar sozinho, descobri que, com o tempo, tudo fica bem. Tudo tem seu tempo.

É como o espaço que separa um objeto solto no ar e o chão, é temporário, ainda vão se encontrar, inevitavelmente, em algum momento.

Um dia o amor resolveu me sacanear de novo, como se fosse um passe de mágica e toda aquela euforia explodia dia afora, a gente gostava das mesmas coisas, falava as mesmas coisas, errava nas mesmas coisas... e ela foi embora sem um recado de despedida, mas tudo bem. Tudo tem seu tempo.

Já colocou na ponta da caneta quanto tempo a gente leva pra ver que não precisa de tudo na vida?

"Tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor."
Renato Russo nem imaginava o quão sábio era.

Eu queria não sentir saudade nunca mais.

Friday, March 13, 2015

Arrumando as gavetas.

Eu lido mal com sentimento, às vezes confundo saudade com falta de preenchimento e, em outras, me guardo vazio à mercê do tempo... Já cheguei a pensar que a vida era toda preparada pra ensinar o que não se aprende mantendo a alma isolada.

O que me indaga é essa dúvida de porquê o amor mata, floresce e desidrata, te prende, te afaga, te distrai e executa com a adaga, te faz se sentir longe do mundo quando o dia é madrugada e o silêncio toma conta dos pensamentos presos nos corredores dessa carcaça.

Não é sempre que erro que aprendo, mas eu ainda tento escolher a melhor parte pra guardar.

Vivo distraído onde tem que ficar atento, dividindo o pão de cada dia mas não o peito de cimento... Maldito esquecimento que me faz guardar frases pra que não se perca o momento.

Cada palavra lembrada é parte do monumento que me mantém em movimento, tentando não me afogar nesse mar de lamento.

Monday, March 9, 2015

Solstício

Quando cheguei aqui não me deram manual de instruções, caí na arena de cara com o leão e sem escudo, só peito cheio e cabeça erguida.

Nos tempos de criança conjugava o tempo no futuro, quando me faltava muita coisa em casa tinha minhas palavras no armário, meu pai foi embora, minha irmã chegou, minha família mudou, ouvi histórias de sequestro, assassinaram meus amigos enquanto outros seguiam pra longe, fui babá, vendedor ambulante, office-boy, músico, artista, referência, decadência, despedida, traição e o acúmulo do alívio da volta ao mundo real, em briga de rua apanhei por estar certo, derrubei pra provar que também conseguia errar já que tapas nas costas não me deixaram corcunda acostumado ao bem ver do jardim, entre outras histórias pra contar.

Hoje eu vejo o futuro do tempo no passado, cicatrizes e o cansaço dessa guerra me fazem ignorar latido de cadela, falsa amizade, armação e saldo bancário, dispensei minhas armas no alistamento atrasado e tenho 27 motivos pra não voltar atrás.

E agora? É caminhar pelo campo minado.
© pensamentos voam com o vento;
Maira Gall